A IMPORTÂNCIA DAS CAIXAS-NINHO
Ao tratar sobre reprodução das aves, uma coisa sempre vêm rapidamente à imaginação: ninhos de gravetos (daqueles bem tradicionais, retratados em filmes e desenhos). Na verdade, há vários tipos de ninhos, os quais trataremos em outra postagem.
As aves das quais falaremos nesse texto costumam fazer ninhos em oco: tanto em pedaços de árvores, quanto rocha. Essas aves costumam possuir uma relação íntima inversamente proporcional ao desmatamento e às atividades antrópicas ligadas a ele (a exemplo da agropecuária), resultando em um drástico declínio populacional. Podemos usar como exemplo os pica-paus (Picidae), os tucanos (Ramphastidae) e papagaios/araras/periquitos (Psittacidae). Os dois últimos são considerados nidificadores secundários, pois apresentam certa desvantagem em relação aos pica-paus: não possuem a capacidade de abrirem cavidades em madeiras (ao menos nas dimensões suficientes para ninhos), dependendo estritamente daquelas já existentes (JESUS & MIKICH,2009).
O método de conservação por caixa-ninho consiste na confecção de caixas de madeira (aquelas vendidas em qualquer agropecuária, até outras próprias para aves maiores) com um substrato (podendo ser madeira podre, por exemplo), e a sua instalação em fragmentos florestais (KILPP et al., 2014). Esse tipo é mais utilizado em florestas temperadas, e embora pouco praticado no país (ao menos de forma relatada em artigos científicos), há alguns estudos visando a conservação de psitacídeos ameaçados de extinção (FIGUEIREDO, 2015). Para que se tenha uma breve noção da eficiência desse método, em um estudo envolvendo o papagaio-charão, (Amazona petrei), (KILPP et al., 2014), foram instaladas 303 caixas-ninho em 15 municípios do Rio Grande do sul, as quais passaram por um período de 5 anos de observação. Durante esse período, a média de ocupação das caixas foi de 74,6%! Por mais que o método pareça extremamente eficaz, alguns contrabandistas se aproveitam dele para roubar filhote e ovos. O tráfico de animais silvestres no país é um dos maiores do mundo, movimentando menos apenas que o tráfico de drogas e o de armas.
Esse é o fim de mais uma postagem da equipe de Conservação do projeto. Contamos com o seu apoio para compartilhá-la, ajudando-nos a divulgar boas práticas ambientais para com a nossa riquíssima ornitofauna.
Abraços!
Texto: Lucas Lima. Imagem: Hudson Martins.
Referências: • JESUS, S.; MIKICH, S. Registro de nidificação de Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) em forro de edificação semi-rural. Revista Brasileira de Ornitologia, v.17,n.1,p.79-81, Nov. 2009. • KILPP, J. C.; PRESTES, N. P.; MARTINEZ, J.; REZENDE, E.; BATISTELLA, T.Instalação de caixas-ninho como estratégia para a conservação do papagaio-charão (Amazona pretrei). Ornithologia 6(2):128-135, setembro 2014 • FIGUEIREDO, N. S. B. Utilização de ninhos artificiais por vertebrados e invertebrados, em um fragmento de mata atlântica, no sul do Brasil. Tese para conclusão de mestrado no programa de pós-graduação em biodiversidade animal da Universidade Federal de Santa Maria,2015