A PALMEIRA QUE MOVE A MATA ATLÂNTICA
Para os observadores de aves, encontrar uma palmeira desta é de certeza um ótimo ponto para fotografar. A palmeira-juçara (Euterpe edulis), ou simplesmente juçara, é também uma das fontes do palmito (o mesmo encontrado em conserva em mercados), e sua congênere 'Euterpe oleracea' é responsável pelo famoso açaí.
A extração irregular do palmito destas palmeiras, hoje ilegal, levou esta espécie ao estado de ameaçada de extinção (EN).
É uma palmeira de médio porte, podendo atingir de 8 a 15 metros, folhas de coloração verde escura com folíolos organizados em um único plano, flores amareladas, frutos verdes quando imaturos e violeta escuro quando estão maduros, seus frutos podem soltar uma tintura violeta, seu caule é cilíndrico e fino, muitas vezes intercalado entre as cores gris e verde, sua raiz é fasciculada, encontrada no primeiro horizonte do solo.
Para esta planta produzir seus frutos, fatores como temperatura e altitude acabam influenciando a época de frutificação da juçara de região para região, por exemplo, a região da Grande São Paulo e ABC, as florações da juçara acaba acontecendo entre Maio e Junho, e sua frutificação se inicia no mês de Julho, assim, até o final de Agosto, todos os coquinhos já estão maduros. Algumas aves como a jacutinga (Aburria jacutinga) e o sabiá-una (Turdus flaviceps) acabam seguindo essas frutificações da juçara, fazendo migrações de uma altitude a outra.
Para seu plantio, é recomendado que os frutos devam ser retirados do próprio cacho da palmeira, um cacho de juçara pode conter mais de mil coquinhos e pesar mais de cinco quilos.
Após a colheita, os coquinhos devem ser despolpados, pois será usada apenas as sementes neste tipo de plantio, o despolpamento pode ser realizado com o auxilio de uma peneira, as sementes despolpadas devem ser colocadas em um recipiente com água por onde permanecerão por 24 horas.
No processo da estratificação, a água é necessária para ajudar a quebrar a dormência da semente e após esse processo, elas devem ser colocadas em um saco de areia fechado e úmido, onde permanecerão por quatro meses até começarem a brotar.
As sementes após brotarem, devem ser passadas para sacos de plantio de 20x30cm, por onde deverão permanecer até atingirem aproximadamente 50 centímetros de altura.
Ao atingirem 50 centímetros, as mudas já estão mais resistentes, sendo esta a idade recomendada para quem quiser transplantá-las já para o seu local definitivo de plantio no solo, caso contrário, poderão permanecer por mais tempo no saco de plantio ou serem repassados para um vaso ou saco de plantio maior.
Após o plantio da juçara em seu local definitivo, e se suas necessidades de ser mantida na sombra e ser presenteada com água pelo menos duas vezes por semana forem saciadas, após completar o seu sétimo ano de idade, começará a produzir frutos, atraindo assim diversas espécies de aves para o local.
A juçara, ao contrário da maioria das demais plantas frutíferas, costuma frutificar no auge do inverno sendo muitas vezes uma das poucas fontes de alimento disponíveis para as aves durante essa estação, fator que explica o porquê de tantas espécies de aves se alimentarem dos frutos desta palmeira.
Como mencionado no comentário acima, a juçara frutifica na época oposta a da maioria das aves, atraindo assim uma grande diversidade de espécies que consomem os seus frutos, sendo possível encontrar uma infinidade de espécies que se beneficiam da frutificação desta palmeira, entre elas, espécies ameaçadas de extinção como a jacutinga (Aburria jacutinga), o tropeiro-da-serra (Lipaugus lanioides) e o corocochó (Capornis cuculata). As aves, por sua vez, são muito importantes para esta espécie de palmeira pois elas só consomem a poupa de seu fruto, assim regurgitando as sementes, atuando no papel de dispersão de suas sementes e então contribuindo para o desenvolvimento desta ameaçada palmeira.
A juçara (Euterpe edulis) ocorre no Centro-sul do Brasil, ou seja, estados do Centro-oeste, Sudeste e Sul, enquanto sua congênere açaí (Euterpe oleracea) ocorre na Amazônia brasileira.
Texto: Miguel Malta Magro.
Imagens: Miguel Malta Magro (jacutinga) e Lucas Menegon (muda de juçara).